9.11.18


Uma alma feroz que não é bem domesticada
E por isso perde pessoas como uma criança perde os dentes
Ninguém voltaria por um bicho complicado
Assim como ninguém entende o que se sente

Por tantas vezes desejei ser sozinha
Sei do meu espírito animal
Não desejei ter laços, não tenho linha
Tantas vezes eu só achei que fiz mal

Com o passar do tempo isso também passaria
Mas não passou, nem passará
Como pássaro só sei voar
Só não sei se me há lugar

E quero ir para longe
Porque não consigo estar engaiolada
Mas a dor da solidão
É uma grande malcriada

18.10.18

retorno

das noites sombrias antigas
herdei a alma lenta e molhada
como se a chuva estivesse aqui
como se meu universo fosse um nada

foi naquele tempo, de quando escrevia
que nasceu uma flor em meu peito
porque o que era poesia
transformou-se num grito sutil, com jeito

e desse escândalo fez-se a calma
como há dez anos eu não imaginava
a maturidade trouxe a flora, a fauna
tudo desabrochava, tudo revolucionava

eu não sou eu de muito tempo
tu também não és como me lembro
mas a inspiração de agora há pouco
(rio, pois não foi o vento)
até me fez retomar algo bolorento

talvez eu ainda saiba dizer
o que tão facilmente dizia
talvez ainda tenha palavra aqui dentro
a flor pode não se limitar à azia
da antiga noite sombria

4.2.18

fantasma.

Domingo à noite parece ser realmente a hora mais solitária do mundo. Acredito que algumas coisas aconteceram no domingo apenas porque de noite temos um outro pensamento. Domingo à noite, um pouco depois do sol se pôr, os fantasmas surgem. Com medo, desde cedo eles te acompanham. Mas, com sorte, eles te esquecem um pouco dependendo do quanto consigas sorrir. Tive fantasmas e tenho medo. Com muitos, aprendi a conviver. Passo os dias conversando com eles e quando percebo meus fantasmas sou eu mesma. Não estão em mim, sou eu. Talvez eu tenha tanto medo por saber de que sou cheia. Fico espantada de ainda conseguir me erguer. Pesa, por vezes. Em todo o caso, por mais solitária cheia deles que me sinta, sou ainda cheia de "talvezes": talvez isso me passe, talvez aprenda a conviver comigo mesma em paz total um dia, talvez entenda que não tem muito mistério, é só ir indo. É só ter força, não sempre, mas sempre que necessário. Ser fraca pode me fazer forte, por assim entender muita coisa. Entendi tanto que nada me restou de poético, nem uma linha, nem um sonho, nem uma fantasia. Foi-se o tempo. Por isso acho que me fui daqui. Ainda amo. Mas acabo mais vivendo do que sonhando. Isso é bom. Meus fantasmas agradecem.