21.12.15

não deixa, moça,
que os sentires ruins te coloquem para baixo,
que façam parecer que a vida não vale,
não deixa que te entristeçam.
cola no que é bom,
em quem te faz bem,
e não importa quem.
nesse momento, moça,
o que precisas não é de julgo,
é de amor.
e quem te dá amor de melhor
é quem escolheste para amar.
então, tem força, moça.
saudade tem, de quando era tudo ok,
de quando quem ama(va)s ainda estava lá.
doeu quando te viraram as costas,
ainda dói.
mas isso passa, moça.
deixa ficar quem quiser ficar,
aproxima e carinha quem quiser ficar.
o tempo tudo corrige,
e amizade a gente não exige,
confiança a gente desenvolve,
em abraço a gente se envolve.
eu sei, moça, que não te arrependes,
apesar de muitas vezes pensares e refletires:
"será que sou alguém tão ruim?".
não, tu não és,
por mais que queiram dizer isso a ti,
tu não és.
nada fizeste.
apenas ficaste, ajudaste quem precisava,
por confiares.
e confias.
e ele em ti.
deixa estar, moça,
o que é para ser de vocês está sendo
e tanta coisa ainda será.

20.12.15

passei muito tempo da vida me achando culpada por estar feliz. como eu poderia estar feliz se alguém estava passando por alguma dificuldade em algum lugar da Terra? como eu poderia estar feliz se eu sabia que uma amiga estava triste? como eu poderia estar feliz se, sei lá, algo não estava bem com alguém?
mas nunca o mundo tá 100%. então, eu me sentia culpada toda a hora. ainda me sinto um pouco. eu reclamo que to sem grana e penso em alguém que não tem nada. eu reclamo que a comida tá fria e penso em alguém que nem tem isso. eu vou me culpando por cada pedacinho de mim.
quando eu encontrei pessoas que considerei amigas, principalmente no meio em que as encontrei, fiquei muito feliz. muito mesmo. são pessoas em que eu podia confiar todo o tempo. cada uma com seu jeito. eu também tenho o meu, também não sou fácil. erro, falho, falta sempre óleo nas minhas embreagens. eu sou gente.
e quando eu decidi estar do lado de quem até hoje está comigo e me acolhe, eu fiz uma escolha pesando várias coisas, mas pautada também em minha intuição. eu confio em mim. parei de me culpar por ter uma sensibilidade grande e quis começar a sentir. e senti alucinadamente. enquanto me viravam as costas, eu me virava para sobreviver dia após dia num mar de merda em que eu escolhi me enfiar, mas que nunca eu imaginei que seria mais difícil para mim do que para quem realmente estava errado. fui julgada como se aquele crime tivesse sido meu, mas aparentemente meu crime foi ter escolhido ajudar a quem eu achei que precisava.
e deu certo. não me arrependo de ter ajudado, se eu pudesse estar mais perto, estaria, pegaria no colo e deixava me molhar com as tantas lágrimas que escutei. isso só nós dois sabemos. isso só nós dois sentimos. e não estamos errados por isso.
se eu estou errada por simplesmente escolher quem, para aquelas pessoas, eu não poderia, então eu estou. estou errada e fodidamente feliz. ele me deixa alegre e para cima como eu nem pensei que poderia, e faz isso porque me adora. não estou sendo convencida, isso é o tipo de coisa que só  eu sei que passo porque vivo e sinto.
não deixei de ser quem eu sou, não deixei de pensar o que penso, de seguir meus ideais - que, aliás, existem há muito mais tempo do que a própria internet -, não deixei de ser amiga de meus amigos, não deixei de ser feminista loka que defende mulheres, não deixei de me interessar por outros caras, não deixei de viver minha vida. o que eu deixei foi de ter paz, a nível de simplesmente ter que vir dizer tudo o que me aflige por não me deixarem viver do jeito que escolhi.
não tô fazendo mal à ninguém, e tenho certeza de que elas, as pessoas, acham que também não estão achando que estão fazendo mal à ninguém. mas estão. estão fazendo mal a mim, de não me deixarem. uma vez minha mãe foi chamada ao colégio que eu estudava, há dez anos. uma menina que eu conhecia, sei lá, desde a segunda série do fundamental, não deixava de me atazanar sempre que podia. minha mãe? disse o que já era uma das minhas maiores características: "se ela fez alguma coisa, por ter certeza que fizeram antes a ela. taí uma menina que não guarda mágoa de ninguém, que é tranquila, que não mexe com ninguém". e continuo assim.
só não pise no meu calo que não tenho sangue de barata.
já sei que para vocês eu sou a errada, eu sou a escrota, eu sou a defensora de macho errado (e só não digo o que vocês exatamente me disseram para não expor nem a mim, nem a ele, pois não tem necessidade), eu já sei que vocês acham isso.
mas agora que já sei e vocês já sabem: vamos viver nossas vidas em paz?

porque eu não tenho vergonha nem culpa nem uma mais de estar em outro lugar no qual não serei tratada mal, não tenho vergonha nem culpa das minhas escolhas, não tenho vergonha nem culpa nem uma de estar feliz do jeito que estou - apesar das crises de depressão de vez em quando, que serão devidamente tratadas no ano que vem -, não tenho vergonha nem culpa de ter escolhido quem me acolheu tão bem. eu poderia ter ficado com as duas coisas, mas não acho que vocês iam querer. então escolhi. e não me arrependo.

não me culpo mais por ser feliz e ninguém vai tirar isso de mim.