23.11.14

vinte e três de novembro

amigo,

há 1 ano vivi um inferno pessoal exatamente no dia de teu aniversário. liguei-te chorando explicando o que havia acontecido e o quanto eu não conseguia sair de casa de tanto que não tinha forças. meu inferno pessoal fez com que eu não vivesse teus trinta anos contigo. lembro que te disse "ano que vem a gente vai comemorar muito teus trinta e um".

hoje, sem ti aqui, eu vejo que meu inferno pessoal por mais que tenha realmente sido horrível (tu acompanhaste, tu sabes), faz com que eu me sinta culpada de não ter tirado forças de qualquer lugar e ter ido te comemorar. faz-me ficar com raiva dele, que me magoou e sinto como se ele tivesse me arrancado teus trinta anos como quem não pode mais arrancar nada. 

mas sei que não é isso, sei que não foi isso. mas a vida teima em brincar e fazer certas coisas acontecerem da forma como têm mesmo que acontecer...

hoje sonhei contigo. eu te dizia que não estava acreditando que tinhas nos deixado. e tu, teimoso como sempre, dizias "mas é verdade, só que eu já posso te tocar, olha aqui" e me dava uns tapinhas leves no ombro. eu te senti. tu me tocaste. eu estava tão imersa ao te encontrar que isto foi um sonho dentro do sonho e que quando acordei, no sonho chorei. chorei porque eu realmente vi que era um sonho e que tu não estavas em outro plano.

hoje chorei, inconformada ao pensar que tenho que me contentar com esses sinais que mandas. é ótimo te ver bem. é ótimo conversar contigo. mas a falta física que sinto de ti às vezes parece que vai me sufocar. eu te amo tanto, queria te abraçar.

tu, que em vida material me ensinaste tanta coisa de amor e quase tudo de amizade, continua me ensinando daí de onde quer que estejas. valorizo mais. quero mais meus amigos próximos. quero mais abraços. quero mais vida. porque tu és a própria vida. o sorriso mais bonito.

em meus sonhos, sempre estás sorrindo. até me abraçaste já. e senti teu calor e teu coração que nunca para de pulsar.

eu não te comemorei ano passado, mas estou aqui, de mansinho, comemorando teu descanso e tua outra vida, em outro lugar, mesmo longe, tu ainda és o que és dentro de mim. 

a saudade que sinto é impossível de explicar.

qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

eu te amo sempre.

feliz aniversário.


15.11.14

quem que eu sou?

olha, vou aqui falar uma verdade.
mas é uma verdade do tipo que me agonia e que de quando em quando me dá uma pontada na alma, de leve. mas o suficiente para me agoniar.

ser quem se é é a coisa mais difícil que pode ser.
e admitir alguma coisa para si mesma é um processo que demora muito tempo às vezes.
admitir que a situação que pensavas ter resolvido não foi resolvida. admitir que aquela amiga que sentes saudade talvez nem lembre de ti. admitir que o caminho que pegaste foi bom na hora mas agora se transformou em um pesadelo. admitir que não é só carne, é alma. admitir, pelo menos para mim, sempre foi um caminhar lento e problemático, talvez porque eu nunca precisei tomar grandes decisões na vida, até que precisei tomá-las.

tudo parece tão fácil enquanto a gente vai crescendo. eu não pensava, por exemplo, que estaria frustrada num trabalho. ou que lutaria tanto por uma causa que me faria ficar meio louca e depressiva. que não ter dinheiro numa sociedade capitalista me faria menos importante. eu nunca pensei nessas coisas. eu nunca pensei que adultecer fosse quase adoecer. e vou levando. tem dias que o tédio e a frustração - de que? ainda não descobri, se não, admitiria aqui. mas não sei mesmo - são tão grandes que choro. ah, eu choro sozinha, quietinha, tentando arranjar forças para que tudo isso passe e eu volte a ser eu mesma.

mas quem que eu sou??

todo dia, ainda, vou me descobrindo, e para ser sincera, achei que com vinte e cinco eu já saberia o que eu seria. mas eu me perdi tantas vezes. eu tento fazer as coisas guiadas pelo meu próprio querer, não pelo querer dos outros, mas será que meu querer não vai desaguar num mar que não possuo? é complicado desse jeito mesmo.

admitir sentir saudades: é o que me faz enlouquecer. e ao mesmo tempo ficar sã. admitindo, assim, não faço nada que possa me prejudicar e - creio eu - não prejudicar ninguém. quer dizer, com minhas mágoas e tristezas e melancolias eu mesma acabo lidando, às vezes grito um grito de socorro que apenas ecoa no vão do mundo errado, eu fiz isso, fiz há umas duas semanas, e, olha, vou te contar: espero nunca mais fazer. porque dói querer um abraço de quem não pode te dar.

e o que que faço??

eu vou vivendo dos abraços que tenho.