30.8.14

Passeando

Entre os copos plásticos e mundos, submundos, vastos seres sem identidade,  entre corpos sem rostos, meros desconhecidos, ditos "doentes" os que a rua habitam por aqueles que realmente estão doentes, que habitam um mundo individual e solitário... Entre as sombras das árvores e os colchões de quem não tem para onde ir, entre a margem e o rio, entre o raso e o fio, a música e o pensamento, entre nós,  entre tranças, entre trancas, entre transas,  entre outros... Entre o mundo que cuidamos e as mulheres que protejo, entre os doentes que tratas e as leis que levo, entre a entrada há uma saída, tu entras, eu vivo, sentimos o que há de melhor nos sentires dentro e fora dos mundos e não paramos. Estamos imersos. E que tempo lindo faz aqui agora. Os doentes de todos os tipos veneram a tarde. E não é cedo nem tarde, nem mais tarde, é: exato.

28.8.14

pequeno quase tratado de um autoretrato acerca do amor, da liberdade e de um possível resultado

I
de tudo o que fiz, e de tudo o que sou, construída e desconstruída
por tudo ainda o que não fiz e o que ainda será
eu reafirmo minha tese de que o não poder me reprime
de que a proibição me destrata
e de que o querer ainda mata
mas não mata literal sempre
tem dias que mata quietinho, baixinho
e em outros grita feito bicho perdido no mundo
a política de meu corpo exprime minha política geral
o que sou dentro de mim aplico ao meu eu de fora
canto liberdade mesmo que ela seja complicada
é problematizada em mim mesma
porque a gente não entende que amor não é prisão
sentir é deixar ser o que se quiser
é deixar ir se assim se desejar
é não temer que a liberdade de se ir seja maior que o próprio amor
a evolução do amor, que é sua volta às origens, ao que era
amor livre, amor compreensivo
é muitas vezes uma chaga para mim
porque luto comigo mesma, pois absorvi a cultura que diz:
"é teu"
não possuo nada, não possuo ninguém
sou dona de mim mesma, apenas
por tudo o que já aconteceu nessa vida
eu quero clarear o pensamento e ter forças de dizer
sem choro, sem fim, sem mágoa
com um sorriso enorme e leveza no coração
não sou de ninguém, ninguém é meu
amo alguém, amo a liberdade, amo ser eu
estou aprendendo a amar
e quem não está, por favor, faça-o
o mundo talvez precise de mais amor
mas também de mais racionalidade

II
sinto saudade, bom saber que também sentes
sinto vontade, e aí às vezes me esqueço do resto
da vida de tão linda que tem sido
com todos os problemas, dilemas e algumas lágrimas
lembro que eu sou o que sou e me afirmo em mim
isso é importante para meu empoderamento
não nasci assim, tenho meu jeito
mas minha liberdade e minha autonomia são construções
que vieram quando me destruí e reergui-me
ser sozinha é difícil mas ainda é o mais fácil
a construção individual é libertadora e gratificante
mas pessoas são diferentes
aplicar o aprendizado é desafiador
mas é um bom exercício de empatia
sim, aplico-te, examino-me, observo-nos
amar também é exercício, desconstrução
é quebrar muros paradigmáticos enormes
vou descobrindo

III
por tudo o que sou, fui, serei e fiz, faço e farei
vou descobrindo

24.8.14

Fico feliz
Até quando acho que descansas
Espero que descanses
Ser feliz é aconchego

20.8.14

Sou

Descobri hoje que eu sou eu.
Não sou quem tu pensas que eu sou. Não sou a impressão que tiveste, nem a primeira, nem a segunda, talvez nem a centésima. Não sou tua expectativa. Não sou a mulher de teus sonhos. Tampouco sou a mulher de teus pesadelos. Não sou aquilo que queiras que eu seja. Não sou amável por aquilo que desejas. Não sou efêmera como deveria ter sido. Não sou eterna enquanto durar. Não sou o fantasma que pode ter te habitado. Não sou a sombra que anda ao teu lado. Não sou a fera que um dia te arranhou. Não sou a ferida que um dia me deixaste. Não sou um pedaço de carne. Não sou o teu sexo. Não sou a tua alma. Não sou teu corpo. Não sou tua. Não sou a pegada que deixei em teu caminho. Não sou o caminho. Não sou o amor. Não sou a dor. Não sou o abraço, nem o suspiro, nem o beijo, nem o gozo, nem o cheiro, nem a nuca, nem o nunca. Não sou o que deveria te ser nem o que deveria ter te sido e nem serei o que talvez devesse te ser.

Eu descobri hoje que eu sou apenas eu. Sou provavelmente tudo isso que também não sou. Mas sou tudo, não partes. Sou teu suor mas sou teu descanso, sou teu cansaço mas sou a paz, sou tua raiva mas sou teu sorriso. Uma pessoa só pode ser inteira.

sou a vida inteira em raio de sol e redemoinho.  vento grosso, chuva mansa, flor astral e corpo quente.

Hoje descobri que eu sou eu, dona de mim, e não o que tu desejas.

lide com isso do jeito que lhe aprouver.

17.8.14

Meu fantasma.

Tenho um fantasma
Que literalmente anda perto
Um ser de outra vida
E que conheço bem
De uma existência perdida
Meu fantasma não entende
Que ele não me existe mais
Ele não evolui
Ele não quer sair daqui
Então, ele fica por aqui
Enquanto o ignoro
Ele se torna mais forte
E quer me deter
Ele me quer
Agora que o conheço
Olho para ele
E digo com os olhos
"Senhor, vá em paz
Eu nada mais sou
Eu já te fui amor
Talvez
Mas hoje eu sou eu
Não mais aquela"
E ele me transforma em algo
Que desconheço
Essa pessoa cansada
Perdida em devaneios
Fraca de espírito
E com a mente em depressão
Acredito em fantasmas
E há um comigo
O tempo me fez perceber
Mas eu não posso deixá-lo ficar
Assim é dizer a ele que faz parte de mim
Não sou essa
Não sou obsessiva
Não sou
Eu me tenho
Alma sensível
Entrada quebrada
Mas forte

Meu fantasma não é só metafórico
Ele é real
Mas há mais vida aqui
Que no pensamento de outras
Então, eu vou viver
Sem medo.

13.8.14

O que eu entendo.

Se, meu bem, eu tiver que não passar as horas que eu gostaria contigo, eu entenderei. Se eu não puder mais te ver por conta de teu trabalho tão lindo, eu não chorarei. Se eu tiver que suspirar sozinha e torcer baixinho por cada passo teu diante deste mundo traiçoeiro da vida na rua, eu farei. Eu aplaudo todas as coisas lindas que essa trupe faz, que essas mentes fazem, que essas vidas trazem. Eu sou orgulhosa de ti, assim como tantos, assim como muitos.

Mas eu gosto de pensar, ainda, que de alguma forma, meu sorriso difere dos demais. E eu não peço desculpas por isso. Porque tudo o que fomos e talvez ainda sejamos faz com que meu sorriso e minha lágrima me diferenciem de tantos.

Se eu tiver que não fazer mais qualquer intervenção poética abestadística espiritual destínica amorosa, aí já não sei. Eu sou dessas, de falar coisas boas para as pessoas que gosto, afinal, amor dá medo, mas nunca é ruim. E amo esse trabalho que vocês fazem, e se é possível, sim, te amo mais agora do que antes, não que isso mude algo, mas é bom olhar para a pessoa que a gente ama e pensar "foi um bom destino".

Mesmo com o maior dos pesares, com tanta confusão, e se, por esse trabalho lindo - mas só por isso - tu não tens tempo para mim, eu aceito. E continuo torcendo. Sempre.

Hoje sei o quanto a humanidade vale mais, mesmo que isso arrisque um amor.

Obrigada por seres quem és. Obrigada por teres chegado a mim. Obrigada pelo amor. Obrigada por, de alguma maneira, nunca teres ido embora.

Continue(mos). Evoé!

12.8.14

No canto
Eu descanso do mundo

5.8.14

Astro claro.

Minha mão tateou a noite
(E os dias)

Até que uma estrela caiu
(E todo o universo)

Como uma luva
(E lá ficou)

Ainda sou estrela. Astro. Oculta. E óbvia.