25.11.12

pega esta tua vírgula e desencaixa da metáfora
pois os pontos que te seguem não vieram das palavras
o silêncio que ensurdece te deixou uma mágoa
e os porquês das reticências amarram-se nas falas
deixa o sinestésico e me passa tua antítese
faço do impossível uma interrogação leve
solta teus erros que me fazem delirar
vai de ponto em ponto na áurea do expressar
toma-me e não me compara, só sente desatar
este grito que me explode não consigo mensurar
e vai exclamando uma aliteração inicial
determina uma letra que eu ponho num mural
dá-me teu sorriso e engole o ponto final
faz que vem e finge que vai e fica em meu peito
poetiza com os outros me fazendo te atentar
e nem me demoniza, pois isso é minha alma divinal
este prazer que declamo é a música que cantas
fazer vida do paradoxo sou eu diaba e santa
porque vamos ao inferno, mas continuamos no céu
e entre ambiguidades colocamos um coloquial
não há suspense quando hiperbolizamos algo natural
pega esta tua vírgula e encaixa um eufemismo
somente para dizer que há saudades sem ironia
que há prazer sem fim de texto
pega este final e me dá uma prosopopeia
que me afirme que se iniciou algo paradoxal

e que seja vírgula sempre, afinal


21.11.12

sinto-te ainda, maldito, em saudades ternas que não me saem do peito quando de repente e do nada te vejo. eu te sinto ainda, como uma pontinha de faca que cutuca o coração toda a santa vez que a ferida fica exposta, porque és tão educadamente esquecedor que não terias a audácia ou a coragem ou a falta de compaixão de me acertar durante quase sempre. e então tu te fazes em figura sólida onde não consigo direito sentir teu cheiro, pois tão longe e tão perto. eu deveria ter te dito o quanto ainda te desejo e parece que não para, mas eu ainda te esqueço, maldito. e vieste brincar comigo logo hoje, quando tudo estava bem e havia riso, eu não precisava de ti. desenhei esta letra A como se não houvesse mais tempo correndo, como se não houvesse mais céu ou minha vida vivendo, eu parei e o mundo parou, foi quando eu percebi que não havia sustento, foi quando eu entendi que não havia momento, foi quando finalmente tudo apareceu para mim somente como um pequenino tormento. que ainda atormenta. 'A'-mor, foi que te fiz e te escrevi e te sonhei e ainda te quis. maldito-e-terno.

12.11.12


o que for bom que me alimente
e que o vapor da noite me trague
mesmo de qualquer forma se entregue
que nunca um momento se estrague
o que for verdadeiro me cerque
que o fio da meada nunca se emende
pois os caminhos são vastos
e o destino os entende
o que for sorriso que me enlace
que o grito se ascenda
o olhar que é meu se apreenda
e que o que não se precisa, não se compreenda.

4.11.12

mas então.

ainda
e todos os dias
se quiser me chamar
e ouvir minha voz
é um balão subindo
a lembrança dos dias
o barulho das noites
o realce de saudade

o que não dá para consertar
deixa para lá...

mas se ainda existir
a fina e bruta flor
podes me chamar
podes dizer meu nome
podes me olhar
sem maldade
sem piedade
sem

sem querer...
porque não dá para ajeitar
é só deixar

sem graça
sem pirraça
sem vontade
sem saudade

só nós
mas sem laços.

3.11.12

cheguei ao quase ponto crítico de imaginar que estava com pena, 'quase' porque só pareci estar, mas não disse, eu não estou, não sinto pena. o que sinto é que me angustia ver que pessoas que podem abrir seus olhos a qualquer momento ainda estão afogadas em um sentimento profundo de poder e submissão, contraditório ou não, e que, aos erros e devaneios de quem se ama, não conseguem abri-los. mas não posso sentir pena, eu só me angustio, de verdade, ao ver quem não vê. é bem verdade o que dizem... que o pior cego é aquele que não quer ver.

1.11.12

talvez se tudo tivesse acontecido de forma diferente, não haveria a paz que há agora.
não me perdoo pelos crimes, mas não me condeno por ser humana.
tento ir além do que se vê e, quem sabe, assim viver.
cansei de contar os dias e desperdiçar as noites.
e cansei disso há muito tempo.
se tudo tivesse acontecido de forma diferente, não haveria a sabedoria que há agora.
não me perdoo pelo jeito, mas não me condeno por ser o que sou.
tento imaginar outros caminhos e, quem sabe, assim seguir.
cansei de me fazer de vítima e culpar os errados.
e canso disso o tempo todo.
é porque se tudo tivesse acontecido de forma diferente, não haveria o prazer que há agora.
e eu me perdoo por te perdoar, e não me condeno por não te condenar.
tento ver exatamente aquilo que conheci e, quem sabe, assim amar.
cansei de odiar, cansei de tentar redimir, cansei de não acordar, cansei de procurar razões para não gostar.
foi difícil. mas eu cansei realmente.
se tudo tivesse acontecido de forma diferente, não haveria a saudade que há agora.